Em sua Nota Técnica 5, “Evolução da
epidemia do COVID-19 no Brasil até 31 de março de 2020”, o Núcleo de Operações
e Inteligência em Saúde (NOIS) analisa as projeções feitas em 21 de março na NT4, descreve a progressão dos casos nos
países em que a doença está mais avançada e também faz um comparativo do Brasil
com países com crescimento semelhante.
Número
de casos no Brasil deve ser maior do que o relatado
Para o comparativo com a NT4, o NOIS
fez uso da métrica MAPE (Mean Absolut
Percentage Error) para verificar a diferença entre os resultados
encontrados no cenário mediano, considerado o mais provável (intermediário
entre os cenários otimista e pessimista). O valor de 17,94% confirma a
pertinência da metodologia utilizada nas projeções feitas para o período de 21
a 30 de março.
No Brasil, os números observados
chegaram a 4.579 casos em 30 de março, ficando entre os cenários otimista e
mediano. Isso, no entanto, segundo o NOIS, não se deve apenas aos resultados
das medidas de contenção. O estudo alerta que há duas dificuldades na
mensuração total dos casos positivos da doença: a ausência de uma política de
testagem ampla e o atraso na obtenção dos resultados e notificações. Estão em
curso a aquisição de mais testes e medidas para expansão do diagnóstico, mas
ainda não se sabe quando essas medidas de fato serão implementadas.
No dia 31 de março, por exemplo, houve um aumento de 25% de casos em relação ao dia 30, quando, nos dois dias anteriores, o crescimento médio foi de apenas 8,30%. Provavelmente este crescimento foi em função de resultados de testes e notificações. Isso denota que o governo apresenta dados parciais e atrasados, não representando a situação real do progresso da doença no País.
Rio
de Janeiro e São Paulo tiveram resultados diferentes
Os dados do Rio de Janeiro na NT4
tiveram uma variação de apenas 10,68% em relação ao projetado, com pequenas
variações entre os cenários e revelando uma diminuição no crescimento da
doença.
Em São Paulo, a mudança na metodologia
de notificação instituída pelo Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) de São
Paulo, em 26 de março, impactou nos resultados. Os casos suspeitos de
profissionais de saúde passaram a ser reportados diretamente ao Ministério de
Saúde, e as notificações por meio do Sistema de Agravo de Notificação (SINAN)
passaram a conter apenas casos graves reportados pelos hospitais de referência.
Além disso, há relatos de um grande número de exames em atraso no Instituto
Adolfo Lutz de São Paulo, chegando a mais de 10 mil casos. O Ministério Público,
em 30 de março, solicitou que SP não notificasse apenas os estados graves,
justificando, dessa forma, o crescimento de 25% de casos no Brasil do dia 31,
como citado acima. Novamente, tudo isso indica que o número real de casos seja
maior do que o relatado em 30 de março.
A
doença está duplicando mais rápido no Brasil
Em comparação com outros países, foi analisada o tempo que cada país leva para que o número de casos dobre. Quanto menor o número, pior, já que são menos dias em que a duplicação acontece. As projeções comparam o Brasil com outros países atingidos pela doença, tendo como parâmetro inicial (Dia ZERO – D0) quando os casos estavam em 50. O Brasil começou o D0 em 11 de março e ainda está no início da curva de crescimento da doença.
No dia 31 de março, o D20 do Brasil
estava em 4, próximo ao dos países europeus e EUA, que apresentaram taxas entre
3 e 5. Neste mesmo D20, a Coréia do Sul já havia controlado a doença, chegando
a uma taxa de 31 dias para a duplicação.
O Brasil apresentou uma grande
variação nessa taxa de duplicação, principalmente entre os dias 25 de março
(D14) e 31 de março (D20), mas a queda acentuada do D19 para o D20, de 13,6
para 4, indica que, como dito antes, possa ter havido subnotificação do número
de casos confirmados no Brasil nos dias anteriores.
Além disso, por mais que as medidas de contenção tenham sido tomadas logo no início da epidemia (o que se mostrou eficaz para outros países), não se pode atribuir o crescimento mais lento do Brasil exclusivamente a este fato. A disseminação da doença ainda não está controlada, já que o total de casos reportados tem aumentado, especialmente em direção à periferia das grandes cidades e das capitais para o interior.
Semelhanças
da progressão da COVID-19 entre o Brasil e outros países
O estudo também
comparou o Brasil com outros países que se encontram no mesmo estágio de
transmissão, estando, pelo menos, no D20 (20 dias após a identificação do 50º
caso). São 39 países que apresentam juntos um total de 787.983 de casos
confirmados da COVID-19, o que corresponde a 92% do total de casos divulgados
pela OMS. São eles: Brasil, Canadá, Estados Unidos, Alemanha, Áustria, Bélgica,
Dinamarca, Egito, Eslovênia, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Islândia,
Itália, Holanda, Noruega, Portugal, Reino Unido, República Tcheca, San Marino,
Suécia, Suíça, Bahrein, Catar, China, Coreia do Sul, Emirados Árabes, Índia,
Irã, Iraque, Israel, Japão, Kuwait, Líbano, Malásia, Singapura, Tailândia,
Austrália.
Até o D13 (24 de março), a evolução do
Brasil é mais rápida do que evolução média destes países, mas uma reversão
desta evolução acontece em seguida. A partir do D14, o crescimento do Brasil
começa a ser mais lento que diversos países, assim, gradualmente, o número de
casos confirmados do Brasil se aproxima da mediana dos demais 38 países.
Os países mais semelhantes ao Brasil, com relação à evolução da doença COVID-19 nos primeiros 20 dias são Áustria, Bélgica, Canadá, República Tcheca, França, Holanda, Portugal, Suíça e Reino Unido. Destes, o pior caso até então é o da França, que tinha 10.970 casos confirmados no D20. Já o Canadá, que nos primeiros dias apresentou o crescimento mais lento, em D20 apresentou 4.682 casos. O menor número de casos em D20 foi na República Tcheca (3.308).
O NOIS é um grupo de pesquisa formado por profissionais de diversas instituições: Departamento de Engenharia Industrial, PUC-Rio, Instituto Tecgraf, PUC-Rio, Barcelona Institute for Global Health (ISGlobal), Espanha, Divisão de Pneumologia, InCor, Hospital das Clínicas FMUSP, Universidade de São Paulo, Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino – Rio de Janeiro e Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). As análises e previsões aqui divulgadas representam as opiniões dos autores envolvidos no estudo e não necessariamente das instituições às quais são associados.
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informações em https://sites.google.com/view/nois-pucrio e no Twitter do NOIS: https://twitter.com/NOIS_PUCRio.