Em parceria com IVISA-Rio, pesquisadores do Laboratório de Química Atmosférica vão analisar composição
dos cigarros eletrônicos
Acordo válido até final de 2025 permitirá aos químicos medirem impactos à saúde
O que tem no Vape? Essa é uma pergunta que está perto de ser cientificamente respondida. Pesquisadores do Laboratório de Química Atmosférica, do Departamento de Química do CTC/PUC-Rio, acabam de conseguir um acordo de colaboração técnica com o Instituto Municipal de Vigilância Sanitária, Vigilância de Zoonoses e Inspeção Agropecuária (IVISA-Rio), da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, para a análise da composição dos cigarros eletrônicos apreendidos na capital fluminense.
No Brasil, os cigarros eletrônicos, também conhecidos como vaporizadores (vapes), são proibidos, de acordo com a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 46 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Inclusive, a proibição da fabricação, importação, comercialização, distribuição, propaganda e uso em recintos coletivos fechados foi reiterada em abril deste ano pela Anvisa: RDC 855/2024. Desta forma, os produtos adquiridos são provenientes de contrabando. Na cidade do Rio de Janeiro, o IVISA-Rio é responsável pela fiscalização e apreensão desses produtos. Com o acordo – válido até outubro de 2025 –, os vapes apreendidos serão doados para análises no laboratório do Centro Técnico Científico da PUC-Rio.
“Há diversas incertezas sobre a composição desses produtos. Comprá-los no mercado ilegal colocaria em xeque os resultados e a ética da pesquisa. Por isso, essa parceria inédita com o IVISA-Rio é tão importante e vai nos permitir uma grande investigação”, afirma Adriana Gioda, professora do Departamento de Química do CTC/PUC-Rio e coordenadora do trabalho.
Investigações paralelas
Enquanto lutavam para ter acesso aos produtos de forma legalizada, os pesquisadores do LQA desenvolviam metodologias para análise da composição química e toxicológica de alguns solventes, nicotina e aromatizantes – estes comercializados legalmente no país. A hipótese é de que alguns deles sejam usados para o preparo dos Vapes de forma artesanal.
“Avaliamos os efeitos biológicos destes produtos em fungos Saccharomyces cerevisiae (levedura de cerveja) e células humanas do coração da linhagen H9c2. Nossos resultados preliminares mostraram que a toxicidade das matérias-primas usadas nas leveduras tem relação dependente da concentração, com inibição de seu crescimento e morte. Na exposição aguda, a glicerina pura e o propilenoglicol foram tóxicos tanto para leveduras quanto para as células humanas H9c2, sendo mais tóxica com aumento da quantidade de propilenoglicol na solução. Outros testes complementares ainda serão realizados, assim como análises de toxicidade”, explica o doutorando Carlos Leonny Fragoso.
Em outra iniciativa, o grupo de cientistas buscou parceria com o professor Sergio Lifschitz, do Departamento de Informática, também do CTC/PUC-Rio, para o desenvolvimento de um questionário visando identificar o perfil dos usuários maiores de 18 anos. O questionário está disponível no site: Pesquisa Vapes e será aplicado na comunidade dos frequentadores do campus da universidade por meio de uma parceria com a Vice-reitoria Comunitária e a agência Comunicar e Serviço Médico.
“Através do nosso trabalho científico, esperamos fornecer o máximo de conhecimento à sociedade e aos órgãos reguladores sobre os cigarros eletrônicos, permitindo informações mais qualificadas e eficazes para a tomada de decisões sobre o futuro destes tipos de produtos no país”, conclui Adriana Gioda.