Pesquisa do Departamento de Química aponta presença de mercúrio em partículas (PM2.5) no Rio que são principalmente decorrentes de queimadas

Pesquisa do Departamento de Química aponta presença de mercúrio em partículas (PM2.5) no Rio que são principalmente decorrentes de queimadas

Estudo também aponta variações significativas por região e durante as estações do ano

Pesquisa conduzida pelo Laboratório de Química Atmosférica, do Departamento de Química do Centro Técnico Científico da PUC-Rio, financiada pela FAPERJ, avaliou as concentrações de mercúrio em material particulado (PM2.5) no ar em três locais distintos: uma área urbana (Gávea), área urbana afetada pela queima de cana-de-açúcar (Campos dos Goytacazes) e área de reserva de proteção (Parque Nacional da Serra dos Órgãos - Parnaso) no estado do Rio de Janeiro. Os resultados revelaram que 63 % das amostras apresentavam concentrações diárias de PM2.5 superiores aos padrões estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde, podendo causar potenciais problemas à saúde e bem-estar, especialmente no trato respiratório.

O trabalho – que acaba de ser publicado na revista científica Royal Society of Chemistry –, foi resultado de uma coleta durante 2022–2023. A concentração média de mercúrio no PM2.5 foi maior em Campos dos Goytacazes (169 ± 139 pg m⁻³), região de cultivo de cana-de-açúcar, onde queimadas são uma prática recorrente e pode ser a principal fonte. Embora PARNASO seja uma área de preservação, as concentrações médias de mercúrio no PM2.5 (110 ± 71 pg m⁻³) foram maiores que na Gávea (81 ± 116 pg m⁻³). A provável explicação para essa diferença é a proximidade do ponto de amostragem com a rodovia, além do transporte de longa distância.

“A novidade dos nossos resultados está na quantificação das concentrações de mercúrio no material particulado no Rio de Janeiro, na identificação das variações sazonais e nas possíveis fontes de emissão. O Rio de Janeiro, como um dos maiores centros urbanos e industriais do Brasil, apresenta características únicas que tornam a investigação desses níveis de poluição relevante, principalmente devido à combinação de urbanização intensa e atividades industriais na região”, comenta Luis Fernando Mendonça da Silva, doutorando do CTC/PUC-Rio, que desenvolveu o trabalho.

Esse é o primeiro estudo no Rio de Janeiro voltado para análise de mercúrio em material particulado realizado com um analisador de Hg de leitura direta. Além desse destaque, a professora do Centro Técnico Científico da PUC-Rio e Coordenadora do Laboratório de Química Atmosférica, Adriana Gioda, ressalta uma característica importante das partículas – que não são estáticas e não se restringem a seus limites geográficos.

“Um fator importante é que as queimadas, independente do tipo de biomassa, não causam a poluição do ar apenas pela emissão de partículas, mas também pelos componentes associados a elas. Nesse estudo, foi o mercúrio. Em Parnaso se esperaria uma concentração mais baixa por ser uma área de mata preservada. No entanto, por estar perto da rodovia, onde a queima de diesel emite Hg, os níveis foram altos. As partículas não são estáticas e podem ter vindo da rodovia ou de longas distâncias. Importante lembrar que as massas de ar não são influenciadas pelos limites geográficos, diz.

As Quatro Estações do Ano

A variação sazonal também foi recorte de avaliação dos pesquisadores do CTC/PUC-Rio. Os números revelaram que as maiores porcentagens de mercúrio no PM2.5 foram encontradas no outono: em 37 %; seguido por 28 %, na primavera; 24 % no inverno e 11 % no verão. A diferença entre mercúrio nas amostras foi considerada muito mais significativa na primavera, outono e inverno do que no verão. A hipótese é de que as temperaturas elevadas e maior radiação solar no verão podem facilitar a transformação de gás em partículas.

“As concentrações de Hg foram, aproximadamente, duas vezes maiores durante o período seco, quando comparados com o verão, sugerindo contribuições de fontes locais e poluição transfronteiriça. Além disso, observamos variação sazonal significativa, com níveis mais altos na área urbana do interior (Campos), impactada por queimadas, do que na capital e em locais preservados”, finaliza a coordenadora do LQA do Departamento de Química do CTC/PUC-RIo, Adriana Gioda.

De acordo com os pesquisadores, estudos complementares devem ser realizados no futuro para entender o ciclo desse poluente no Estado do Rio de Janeiro.

 

terça-feira, 17 de setembro de 2024
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