Professor do DEM e IEPUC responde a perguntas sobre Transição Energética em 2025. Confira!
Países e empresas vivenciam a necessidade de transformações no cenário energético – cada qual a uma maneira e velocidade. Quais caminhos e mudanças nos espera em 2025? Para dar uma pequena previsão e comentar as principais expectativas, o professor do Departamento de Engenharia Mecânica do CTC/PUC-Rio, e do IEPUC, Edmar Luiz Fagundes de Almeida topou responder a algumas perguntas elaboradas pela equipe de comunicação.
Antes, vale ressaltar que o docente também é o atual presidente eleito da Associação Internacional de Economia da Energia (IAEE) e teve atuação importante para trazer dois eventos significativos em 2024: o Seminário ENERCITY – Rio: Capital da Transição Energética em Cidades, ocorrido em maio e a 9ª edição do Latin American Energy Economics Meeting (ELAEE), realizado em julho, ambos nas acomodações da PUC-Rio.
O professor é o atual presidente eleito da Associação Internacional de Economia da Energia (IAEE). Quais os desafios de presidir uma entidade global de relevância?
Uma associação científica é composta de pessoas dispostas a trabalhar e colaborar de forma voluntária. Para se manter relevante e atrair participantes o grande desafio de uma associação é se manter atualizada e relevante em um contexto de rápida transformação nos planos da tecnologia, da política e da economia. Assim, a liderança da associação deve estar atenta para que a agenda da Associação reflita o momento que estamos vivendo. Outro grande desafio é geracional. Há uma mudança muito grande no perfil e tipo de interesse dos jovens atualmente. É necessário um olhar atento para o interesse e as formas de interação das novas gerações.
De que forma a IAEE pode transpor os muros acadêmicos e trazer mais interação e benefícios diretos à sociedade?
A IAEE é uma associação que congrega profissionais que trabalham com a Economia da Energia em todas as instâncias, e não somente na academia. Grande parte dos nossos associados entram na associação ainda durante o período da sua formação acadêmica, mas continuam interagindo com a Associação quando vão trabalhar para as empresas ou para o governo. No caso da IAEE, os avanços científicos resultantes dos nossos seminários e publicações se materializam em estratégias empresariais e políticas públicas para o setor de energia. Portanto, o benefício é direto e imediato.
Muito se discute sobre a transição energética e você costuma falar da necessidade de uma “transição energética justa”. O que isso significa?
Significa reconhecer que o contexto do desenvolvimento energético varia muito entre países e mesmo entre diferentes camadas sociais dentro de um mesmo país. Significa reconhecer que ainda existe um nível elevado de pobreza energética, ou seja, pessoas sem o acesso ou com baixa capacidade de consumo de fontes de energia modernas. Por outro lado, a transição energética apresenta custos. Portanto, uma transição justa é buscar estratégias para não deixar ninguém para trás. A transição energética não pode ser um vetor de mais exclusão energética, pelo contrário. Devemos aproveitar que estamos rediscutindo nosso estilo de vida e padrão de desenvolvimento energético para atacar a pobreza energética como um dos ganhos da transição.
Fechamos 2024 com a criação da Lei do Combustível do Futuro. O que a medida pode impactar no processo de descarbonização no Brasil?
A Lei do Combustível do Futuro representa um passo importante para a transição energética Brasileira. Com esta lei, o país se compromete de forma clara que avançar no processo de descarbonização. O principal avanço foi criar mecanismos de incentivos para a inserção de novas fontes de energia descarbonizada na nossa matriz energética, como é o caso do Biometano, da SAF e do HVO. Esta lei, juntamente com a Lei do Hidrogênio de Baixo Carbono e a Lei do Mercado de Carbono, dá ao país um arcabouço regulatório robusto para a promoção da transição energética.
De Azerbaijão à Belém. Quais os “do and don’ts” para avançarmos na agenda da sustentabilidade, no que tange à complexidade do tema Energia.
Acho que o grande desafio das COPs é evitar uma perda de foco com a multiplicação de pautas que se associam à questão climática na busca de maior atenção dos stakeholders. Importante guardar o foco na implementação do Acordo de Paris que possui metas claras e mecanismos que precisam ser desenhados e implementados. Temos assistido as COPs se tornarem uma grande feira mundial de posicionamentos de empresas e ONGs, e isto as vezes tira a atenção do essencial, que é a negociação das Partes para implementação de medidas de combate às mudanças climáticas. Assim, seria importante que os stakeholders não perdessem o foco do Acordo de Paris. É importante manter a mobilização e engajamento para empurrar a pauta da implementação do Acordo de Paris.
Em 2025, governos e empresas estão com os olhos voltados para o novo presidente dos Estados Unidos. O que esperar do próximo mandato de Donald Trump para o setor energético?
Não creio que existe clima para que a nova administração Trump tome uma orientação explicitamente contra o Acordo de Paris, como fez no primeiro mandato, ao retirar os EUA do acordo de Paris. Mas certamente, o ambiente econômico para os renováveis nos EUA pode ficar mais desafiador. A eleição de Trump vai colocar os Estados Unidos mais comprometidos com aumento da oferta de óleo e gás e preços mais baixos. A eleição sinalizou que a prioridade dos americanos é reduzir a carestia. Uma forma de fazer isto é com preços de petróleo mais baixos. Outro tema importante são os subsídios à transição energética através do IRA (inflation reduction act). Existe um risco grande do governo reverter esta política para combater o déficit público. Isto não seria bom para a transição energética dos EUA.